A ESCOLHA DE SOFIA

Como vocês devem saber, a escolha de Sofia é a estória de uma mãe judia no campo de concentração nazista de Auschwitz, que é forçada por um soldado alemão a escolher entre o filho e a filha - qual será executado e qual será poupado. Se ela se recusasse a escolher, os dois seriam mortos. Ela escolhe o menino, que é mais forte e tem mais chances de sobreviver, porém nunca mais tem notícias dele.
A questão é tão terrível que o título se converteu em sinônimo de decisão quase impossível de ser tomada.

Envio para vocês um artigo escrito em final de 2009 pelo economista Rodrigo Constantino. Autor de 5 livros. Escreve a coluna "Eu e Investimentos" do jornal Valor Econômico. É também colunista do jornal O Globo. Membro-fundador do Instituto Millenium. Vencedor do prêmio Libertas em 2009, no XII Forum da Liberdade. Seu curriculum vai muito além, é extenso e respeitável.


" Serra ou Dilma? A Escolha de Sofia."

(por Rodrigo Constantino )

“Tudo que é preciso para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam.” (Edmund Burke)

Agora é praticamente oficial: José Serra e Dilma Rousseff são as duas opções viáveis nas próximas eleições. Em quem votar? Esse é um artigo que eu não gostaria de ter que escrever, mas me sinto na obrigação de fazê-lo.
Os antigos atenienses tinham razão ao dizerem que assumir qualquer lado é melhor do que não assumir nenhum?”
Mas existem momentos tão delicados e extremos, onde o que resta das liberdades individuais está pendurado por um fio, que talvez essa postura idealista e de longo prazo não seja razoável. Será que não valeria a pena ter fechado o nariz e eliminado o Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista em 1933 na Alemanha, antes que Hitler pudesse chegar ao poder? Será que o fim de eliminar Hugo Chávez justificaria o meio deplorável de eleger um candidato horrível, mas menos louco e autoritário? São questões filosóficas complexas. Confesso ficar angustiado quando penso nisso.

Voltando à realidade brasileira, temos um verdadeiro monopólio da esquerda na política nacional. PT e PSDB cada vez mais se parecem. Mas existem algumas diferenças importantes também. O PT tem mais ranço ideológico, mais sede pelo poder absoluto, mais disposição para adotar quaisquer meios – os mais abjetos – para tal meta. O PSDB parece ter mais limites éticos quanto a isso O PT associou-se aos mais nefastos ditadores, defende abertamente grupos terroristas, carrega em seu âmago o DNA socialista. O PSDB não chega a tanto.

Além disso, há um fator relevante de curto prazo: o governo Lula aparelhou a máquina estatal toda, desde os três poderes, passando pelo Itamaraty, STF, Polícia Federal, as ONGs, as estatais, as agências reguladoras, tudo! O projeto de poder do PT é aquele seguido por Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador, enfim, todos os comparsas do Foro de São Paulo . Se o avanço rumo ao socialismo não foi maior no Brasil, isso se deve aos freios institucionais, mais sólidos aqui, e não ao desejo do próprio governo. A simbiose entre Estado e governo na gestão Lula foi enorme. O estrago será duradouro. Mas quanto antes for abortado, melhor será: haverá menos sofrimento no processo de ajuste.

Justamente por isso acredito que os liberais devem olhar para este aspecto fundamental, e ignorar um pouco as semelhanças entre Serra e Dilma. Uma continuação da gestão petista através de Dilma é um tiro certo rumo ao pior. Dilma é tão autoritária ou mais que Serra, com o agravante de ter sido uma terrorista na juventude comunista, lutando não contra a ditadura, mas sim por outra ainda pior, aquela existente em Cuba ainda hoje. Ela nunca se arrependeu de seu passado vergonhoso; pelo contrário, sente orgulho. Seu grupo Colina planejou diversos assaltos. Como anular o voto sabendo que esta senhora poderá ser nossa próxima presidente?! Como virar a cara sabendo que isso pode significar passos mais acelerados em direção ao socialismo “bolivariano”?

Entendo que para os defensores da liberdade indi vidual, escolher entre Dilma e Serra é como uma escolha de Sofia.Anular o voto, desta vez, pode significar o triunfo definitivo do mal. Em vez de soco na cara ou no estômago, podemos acabar com um tiro na nuca.

Dito isso, assumo que votarei em Serra, Meu voto é anti-PT acima de qualquer coisa. Meu voto é contra o Lula, contra o Chávez, que já declarou abertamente apoio a Dilma. Meu voto não é a favor de Serra. E, no dia seguinte da eleição, já serei um crítico tão duro ao governo Serra como sou hoje ao governo Lula. Mas, antes é preciso retirar a corja que está no poder. Antes é preciso desarmar a quadrilha que tomou conta de Brasília. Só o desaparelhamento de petistas do Estado já seria um ganho para a liberdade, ainda que momentâneo.
Respeito meus colegas liberais que discordam de mim e pretendem anular o voto. Mas espero ter sido convicente de que o momento pede um pacto temporário com a barbárie, como única chance de salvar o que resta da civilização - o que não é muito.

Comentários

  1. Obrigado pelo texto, mas mesmo assim prefiro anular meu voto.

    Desculpe-me, mas têm 3 coisas nesse país que eu não acredito:
    Política
    Justiça
    Imprensa

    Algure!!

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  2. É mesmo muito ruim essa certeza de vivermos uma injunção paradoxal: a escolha de Sofia. Não podemos, no entanto, fingir ignorar os fatos, votar em branco, anular o voto (dando-nos a falsa noção de que não somos responsáveis) , posto essas atitudes significarem que damos poder para que nos representem e fechamos os olhos. Em suma, espero ler, ver, rever e debater muito as evidências para fazer a escolha possível. Amanhã, comemora-se os 50 anos de Brasília, mas diante de tudo que tem acontecido na Terra-da-Flor do Pau-Seco nos últimos tempos, pergunto-me o que estaremos mesmo celebrando ?!
    Beijo ZZ e obrigada pela contribuição para minha reflexão.
    Conceição de Maria

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  3. Anular o voto seria fortalecer o mal,fortalecer esta mentira que vivemos com Lula no governo.Concordo,não seria a melhor escolha com Serra,mas ao menos estaremos lutando pela dignidade desta nação.O meu voto também será anti-PT e isto nunca foi novidade aqui no blog.Acorda Brasil!

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  4. Às vezes me pego perguntando até que ponto temos liberdade neste país, e as eleições são ponto-chave nesta discussão de mim comigo mesma. Se todos são livres, por que têm obrigação de votar?
    A partir do questionamento, penso, então, que se não houvesse obrigatoriedade ninguém votaria. E por diversas razões, tais como descaso, desinteresse, ceticismo. Então, de certa forma, é certo mandar que todos saiam de suas casas por algumas horas em dia determinado para que escolham seus governantes. Mas funciona?
    Nos Estados Unidos, por exemplo, o voto não é obrigatório e, mesmo assim, leva milhares e milhares de pessoas às cédulas e suas urnas. Pessoas estas que, de fato, estão interessadas em fazer a diferença, eleger aqueles que consideram mais aptos para dirigir múltiplos setores de um Estado, mais que isso, de uma nação.
    O brasileiro tem raiva das ordens, e só as cumpre com medo das sanções. Assim, as urnas são apenas um meio para o fim de não ser punido.
    O brasileiro, experiente espectador de corrupção, não acredita que alguém possa realmente ser eleito para representar a voz do povo e lutar por seus interesses a fim de melhorar as condições para que se tenha uma vida digna.
    Carrega a máxima de que "todos os políticos são iguais" consigo como justificativa para a escolha quase aleatória de seu candidato, que se torna apenas um número. Tanto é que, quatro anos depois, o número já foi esquecido. Não se sabe em quem votou nem o que foi feito para "retribuir" o voto - no sentido de cumprir as promessas feitas em época de campanha.
    O brasileiro se pergunta qual o sentido de votar, de contribuir. O voto é uma obrigação assim como os impostos o são, e estes não trazem retorno eficaz, visto que não há investimento em infraestrutura, em melhorias para a população, em nada. Qual o retorno dos governantes eleitos?
    A obrigatoriedade, não é difícil perceber, torna-se trunfo, carta na manga de uma maioria que entra na disputa visando seus benefícios. Como? Ora, se o brasileiro não possui educação política, se a maior parte do país é composta pela massa, que é desinformada, e se todos são obrigados a votar, eu, político, corrupto (eufemismo para ladrão), prometo mundos e fundos, dou um "agrado" aqui, outro ali, atinjo meu objetivo, e serei rapidamente esquecido, posto que sou número, até a próxima eleição, quando serei lembrado por ter dado telha a Sr. José e feijão a Dna. Maria. Isso nos interiores é a coisa mais comum do mundo. Acredito que em todos Brasil afora, mas, principalmente, os do Nordeste, onde a seca impera o ano todo e crianças cegam por falta de nutrição, como aconteceu há pouco - uma menina de dois anos, sem ter o que comer além de farinha, perdeu o olho, que literalmente caiu no chão.
    Vejo, entretanto, a obrigatoriedade do voto como uma norma jurídica que, como as demais, visa a orientação de conduta, o dever-ser de uma sociedade. Então voto, sim, não por medo da sanção, mas porque reconheço tal norma como cultura de meu povo. O dever-ser dela é fazer com que esse povo aja com consciência, pesquise os antecedentes daqueles que serão seus representantes jurídicos, não seja omisso com seu Estado.
    Talvez seja uma visão romântica, otimista demais, mas é apenas um desejo íntimo de fazer a diferença. Para isso, não posso anular meu voto, abster-me de minhas responsabilidades de cidadã.
    Também voto no Serra por acreditar na má-fé do PT, de Lula e de Dilma. E por acreditar que ele poderá, sim, também fazer a diferença.

    Acho que me prolonguei muito, mas foi um desabafo por discordar daqueles que preferem ficar em cima do muro a participar ativamente das poucas decisões que os brasileiros têm direito de tomar em relação ao sistema.

    Cheiro EM todos,

    Laurinha.

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  5. Passamos da hora de entender que a prática de anular o voto é um ato democrático, significa protesto, lendo o texto percebi que o autor quer indicar o voto no pior contra o "mais pior", se é que posso usar uma expressão tão feia.
    Mas uma campanha contra a política autoritária de ambos os candidatos poderia sim ser a favor do VOTO NULO, em algum momento precisamos exercer a liberdade de não escolher de forma plebiscitária.
    Uma pequena citação do Eduardo Galeano (muito conhecido pelo Livro "As veias abertas da América Latina" me diz o que fazer - crer na Utopia, segundo Galeano "A utopia é que nos faz caminhar", acho que precisamos de liberdade para sermos éticos.
    Uma avalanche de votos nulos vai deixar bem claro o nosso descontentamento, quem sabe melhora.
    Até
    Mauricio

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  6. Zizi, antenada!

    Vc sabe que meu voto é seu!

    Te amo!

    Marcelo Malagori

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  7. OUTRO DIA , EM CASA DE AMIGOS SURGIU ESSA DISCUSSÃO SOBRE VOTAR OU ANULAR O VOTO??FOI UMA BATALHE E TANTO,CADA UM TENTANDO JUSTIFICAR A SUA OPINIÃO!
    EU ,PARTICULARMENTE PREFIRO VOTAR,E POR MAIS QUE O MOMENTO ESTEJA MUITO DIFÍCIL, QUE AS PESSOAS NÃO SEJAM QUEM EU GOSTARIA QUE FOSSEM,VOU ESCOLHER.ALIÁS,JÁ ESCOLHI,PROVAVELMENTE O SERRA,POIS NÃO HÁ OUTRA SAÍDA. DEPOIS, ACOMPANHAR, PARTICIPAR E COBRAR!!
    REZAR E REZAR MUITO PARA QUE DEUS NOS AJUDE E AJUDE OS POLÍTICOS A TEREM ÉTICA E DIGNIDADE!!
    QUE ASSIM SEJA , AMÉM!!


    CARMINHA

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  8. O articulista poderia ter falado também do aparelhamento estatal impetrado pelo PSDB na era FHC (que naturalmente será retomado pelo candidato do psdb caso eleito). Sejamos críticos com o governo, mas não sejamos cegos. No governo Lula mais pessoas tiveram acesso à renda, ao trabalho, á educação, à universidade, à participação... e isso deixa os riquinhos mortos de medo... Afinal, tem mais gente acessando bens que antes eram de poucos...
    Dito isso, VOTO DILMA.

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  9. É uma delícia ler o que Laurinha escreve! Sempre com colocações firmes, coerentes, argumentos muito bem embasados...enfim, um dinamismo textual por demais envolvente. Juro que ela quase me pegava quando, deslizando o nosso 'ratinho', me demorei sobre o comentário do Maurício,por cuja opinião me enveredei um pouquinho mais. No entanto,existe uma 'pulguinha' atrás da minha orelha que há tempos não me permite conceber uma coisa, mesmo o argumento mais sedutor: que afinidade pode haver entre obrigatoriedade de voto e democracia? Por isso não farei qualquer consideração sobre a anulação ou não de voto, visto que se trata de uma circunstância posterior.
    De todo modo, é certo que meu voto não será nem de um(Dilma) muito menos de outro(Serra).
    Xerus em todos.

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